ADRENALINA NAS ALTURAS

15-11-2010 13:01

Para os mais corajosos o litoral oferece um passeio nas alturas. Inaugurado em 2002, o teleférico de São Vicente é um dos atrativos mais procurados da cidade    

 

Por Ivan Stefano

        Quem disse que o ser humano não pode voar? Seja em cadeiras ou em tecidos que nos levam às alturas, o homem foi aperfeiçoando a cada dia a sua maneira de viver e de expor sua liberdade. E nada melhor para representar um momento livre do que voando. No litoral da Baixada Santista, a cidade de São Vicente é uma das que oferece a oportunidade de sentir esta sensação de liberdade nas alturas. E tudo em um só percurso. Se você é um desses que está procurando por adrenalina ou somente um passeio em família com friozinho na barriga, siga esta dica da Parada Certa. 

O passeio rumo às alturas começa pelo Teleférico de São Vicente, localizado na Avenida Ayrton Senna, nº 500, na Praia do Itararé. Inaugurado em 2002, é um dos pontos turísticos mais visitados da Baixada Santista. Neste ano, completa o total de 500 mil visitas. O percurso, de 700 metros de extensão e 180 metros de altura, liga a Praia do Itararé ao Morro Voturuá, mais conhecido na região por Morro da Asa Delta, pois é de lá que os apaixonados por voo fazem suas decolagens de asa delta e parapente. Mas não se preocupe. Se você tem medo de altura e não quer arriscar uma carona ao Morro pelo Teleférico, o acesso também pode ser feito de carro pelo Morro José Menino, em Santos.

Frio na barriga é sem dúvida o principal sentimento causado para quem for desfrutar deste passeio no Teleférico. Por apenas R$ 12 e com 11 minutos de percurso (11 minutos na ida, mais 11 minutos na volta), senti na pele a sensação de estar nas alturas, por mais que estivesse sentado. A placa “Prepare-se para uma linda aventura” pouco descreve a sensação que se tem ao “decolar” por meio de cadeiras fixadas em cabos de aço. Apesar de o trajeto parecer lento, o Teleférico foi o primeiro no país com controle eletrônico de quatro velocidades. Talvez a “baixa velocidade” seja para apreciar melhor o visual.

A vista começa a tomar uma outra forma. Pessoas viram formigas, carros se transformam em miniaturas e o vento se torna mais forte à medida que se chega mais perto do Morro. Na primeira parte, é indescritível a sensação que se tem ao passar “por cima” dos carros. O único momento que dá medo durante todo o percurso. Após passada a tensão dos carros, as cadeiras nos levam por entre a vegetação do Morro, local onde o silêncio só disputa com os sons dos pássaros e o corpo relaxa.

O passeio pelo Teleférico pode ser feito de segunda à sexta, das 13 às 18 horas e aos sábados, domingos e feriados, das 10 às 18 horas. Maiores de 60 anos pagam meia entrada e crianças até oito anos não pagam. “Senti um pouco de medo no começo, mas depois dos primeiros minutos de tensão o corpo se acostuma com a adrenalina e você acaba se entregando às sensações”, resume a santista Cláudia Moreira, de 28 anos, que me fez companhia durante o percurso de ida.

Após o passeio, instrutores nos ajudam a descer das cadeiras, tanto no início do percurso, como lá em cima, na chegada ao Morro. Quando se pensa que a belíssima vista havia terminado, me deparo com uma imensa plataforma, por onde “uns malucos” pulam em direção à praia, se entregando ao vento nas alturas. No lugar, há estacionamento para os “turistas menos encorajados” que subiram ao Morro pela estrada de terra, banheiros, internet via Wi-fii e um “restaurante para enganar a fome”. Mas só para enganar mesmo, nada de muito luxo além de alguns salgados e refrigerantes.

No alto do Morro também está localizado o Clube de Vôo Livre do Litoral Paulista (CVLLP). Fundado em 25 de julho de 1978, é o primeiro clube oficializado no Brasil, que agrega pilotos de asa delta e parapente.  No Clube, além dos praticantes profissionais do esporte, aulas teóricas e práticas também são dadas para os interessados em iniciar nessa “carreira de aventura”. O curso todo custa por volta de R$ 8.500, dependendo dos equipamentos que cada piloto comprar. O tempo do curso depende do preparo do aluno e da sua freqüência às aulas. Mas se você está sem grana e também quer disputar espaço junto aos pássaros, não se entristeça.

O Clube oferece a prática de vôos duplos. Por R$ 120, é possível decolar junto com um piloto profissional do lugar e fazer parte da sensação que eles sentem ao estarem nas alturas. O instrutor é quem controla toda a decolagem. A nós, só resta curtir a sensação, sem se preocupar muito com “o que fazer para não cair”. O tempo de decolagem depende da disposição do piloto e do clima que a natureza nos oferecer.          

Para pular, são necessários quatro objetos principais: o selete - funciona como um casulo onde o atleta fica durante todo o voo -, acoplado a ele fica o paraquedas reserva, utilizado em casos de emergência, um par de mosquetões e o velame, maior parte do equipamento dividido em três partes: vela, linha e tirantes. Todos esses nomes são explicados nos cursos oferecidos pelo Clube.

Nas aulas práticas, os profissionais expõem os assuntos necessários para a decolagem: como abrir o parapente, conectar-se ao vizinho, fazer a checagem, inflar com segurança e realizar uma boa aproximação e voo. Na parte teórica, os alunos e futuros pilotos aprendem as condições de como comprar o equipamento, o que é um parapente e como funciona, mecânica de voo, meteorologia (vento, nuvens e micrometeorologia), manobras de emergência, térmica entre outras. Tudo com um linguajar especificado que só os mais conhecidos do esporte entendem.

Carlinhos Tuchai, instrutor de voo e praticante do esporte há 18 anos, conta que sua primeira experiência com o esporte foi em um voo duplo que durou 40 minutos. “Desde então me apaixonei pelo esporte, pois foi nele que passei a me sentir livre”, complementa Tuchai. 

Os visitantes mais frequentes são os turistas, já que os moradores da região pouco usufruem desta adrenalina. Na baixa temporada, os finais de semana são os dias preferidos das famílias e grupos de idosos do Litoral, mas o lugar recebe ainda mais visitas na alta temporada – dezembro à março – e em época de cruzeiros que trazem junto a eles, turistas de todas as partes à região litorânea.

O sítio de voo de São Vicente foi inaugurado pelos irmãos Haroldo e Celso Dias e pelo piloto Djalma Vieira. É na rampa Cleber Talarico que o piloto Tuchai faz suas decolagens e onde recordes de voo são batidos. O recorde de distância de Asa Delta foi realizado pelo piloto Beethoven, em 2006, que alcançou uma distância de 48,6 km. Em relação ao parapente, Ângelo Santos de Oliveira, mais conhecido como Caboclinho, foi o responsável por quebrar o recorde de parapente em abril deste ano, ao alcançar 1636 metros de altura. “Essa sensação de liberdade tornou-se meu maior vício”, completa o piloto Carlinhos Tuchai. Atualmente, mais de 100 mil pessoas praticam o esporte em todo o Brasil.

Além de ver os navios em alto mar e os pontinhos nos quais os banhistas se transformam quando vistos lá do alto, também é possível visualizar do alto do morro as cidades Santos, Guarujá, Praia Grande e Cubatão. É como se entrássemos em um outro mundo. Lá em cima, inúmeras pessoas conversam de altura, velocidade, tempo de voo, e “se jogam” do alto do morro na maior naturalidade. Rádios são usados para fazer a comunicação com o piloto e passar as instruções necessárias para se obter uma decolagem segura. 

Tuchai diz que nunca houve um acidente grave, mas que muitos cuidados são necessários para garantir um voo com segurança, como os ensinamentos que são passados durante o curso, o qual proporciona um maior conhecimento do piloto antes de sair “se jogando” por aí. Uma bandeira instalada no local faz a medição do vento para que os pilotos saibam as melhores horas e um bom clima para praticar o voo. 

Se você tiver a coragem de pular junto com o instrutor, deixo aqui minha admiração. O convite até foi feito, mas meu medo de altura falou mais alto e resolvi descer do Morro pelo percurso de volta no Teleférico. Mas mesmo assim, não foi um passeio perdido. A sensação que senti ao subir e descer pelo Teleférico e poder desfrutar do belo visual que o Morro Voturuá nos proporciona já me fez sentir um pouco do gostinho que todas aquelas gaivotas que vi lá de cima sentem ao estarem lá, de asas abertas, se equilibrando por entre o vento e deslizando no meio das nuvens. 

        O esporte – Os primeiros modelos de parapente foram feitos especialmente para as espaçonaves. Foi o norte-americano, David Barish quem se dedicou a criar um novo paraquedas destinado ao projeto Apolo, da NASA. Em 1973, Barish foi o responsável por escrever o primeiro manual de Paraglider, mostrando o esporte como uma variante do voo livre.

No Brasil, o primeiro voo de Paraglider que se tem registro foi realizado em 1988, no Rio de Janeiro, por dois suíços que decolaram na rampa da Pedra Bonita, já utilizada por praticantes de asa delta. Atualmente, o Brasil ocupa a 7ª colocação do ranking mundial em prática do esporte.

 

 

Clube de Vôo Livre do Litoral Paulista (CVLLP)

:: www.cvllp.com.br

:: Morro do Voturuá – R$ 120 voo duplo / R$ 8.500 curso completo

:: Tel.: 3568-8043

 

 

 

Quer conhecer

:: Teleférico São Vicente

:: De segunda à sexta, das 13 às 18 horas.

:: Sábados, domingos e feriados, das 10 às 18 horas

:: Avenida Ayrton Senna, nº 500 - Praia do Itararé – R$12 por pessoa

:: Idosos até 60 anos pagam meia entrada / Crianças até 8 anos não pagam

 

 


 

Galeria de Fotos: IVAN XXXXXXX